Ricardo Salles participou nesta terça (13) de audiência pública na Comissão Externa Do Senado. Salles foi convocado para esta reunião, feita por videoconferência, para falar sobre as queimadas que consomem o Pantanal há pelo menos três meses. E o que o governo tem feito para combater o desastre. Era conversa pra boi dormir e não deu outra.

Como preâmbulo para a audiência, Salles preparou mais uma de suas investidas, tão polêmica quanto infame. No sábado sobrevoou o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, após duas semanas de fogo inclemente. “Estamos aqui, na linha de frente, com os brigadistas do Ibama, ICMBio e Bombeiros”, alardeou em post no Twitter.
E pra completar mandou despejar no solo calcinado um retardante, um aditivo químico para retardar a propagação do fogo. Não se sabe efetivamente quais os efeitos dessa substância no solo e o tempo para sua eliminação, algo fundamental quando se trata de área de preservação como o Parque da Chapada.
O episódio bastou para enfurecer a população de Alto Paraiso e voluntários – há dias eles se desdobram para enfrentar a situação com mínimos recursos, inclusive financeiros e nenhuma estrutura ou apoio oficial –, que passaram a pedir sua saída do ministério. A resposta, por meio de nota do MMA, denota a estatura moral e ética dessa figura que já não provoca nada mais senão repugnância na sociedade brasileira. “Opinião de maconheiros não tem relevância.”
Nesse contexto nada havia a se esperar de seu questionamento na Comissão. Disse que o governo só tem responsabilidade sobre 6% dos 15 milhões de hectares do Pantanal, empurrando a bola pra governadores e prefeitos, defendeu a utilização doa gene retardante e de chamas, culpou o clima e o preservacionismo excessivo, que impede que se queime de forma controlada o material orgânico – algo que o boi bombeiro poderia contribuir para neutralizar as chagas provenientes das queimadas, como propõe a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
Notem que a ministra não trata a ideia do rebanho como meio de regulação ecológica, mas sutilmente (se tanto) exalta a vocação pecuária do Pantanal como diretriz a ser perseguida, ignorando a ação humana no controle e na manipulação do pasto, derrubada da mata nativa e expansão das fronteiras agrícolas e a própria realidade que aponta para o próprio crescimento do gado pantaneiro. Como lembra o pesquisador do Inpe, Alberto Waingort Setzer, “a natureza, em si, não tem poder de combustão.”
E assim o governo do capitão e seus súditos vão construindo uma narrativa que os isente de responsabilidade pelo fogo que já consumiu mais de um quarto de sua área neste ano e se propaga para os demais biomas pelo país afora.
Ao investir contra a natureza e ambientalistas, o discurso falacioso, igualmente desconsidera que a seca e eventos climáticos extremos, que ora afetam o Pantanal, deriva de ações de negacionistas como ele e seu chefe. E é reflexo de sua política de desmonte e organismos de controle e fiscalização ambientais e da negligência e cumplicidade criminosa do governo e sua retórica de indução à ocupação ilegal desses biomas.
Em sua edição de sábado, a Folha pede em editorial (Salles Precisar Sair) expressamente a cabeça do antiministro do MMA. Em sua argumentação, o jornal defende que Bolsonaro, “seja por pragmatismo comercial e diplomático, seja para manter a sustentação política de seu governo”, “precisa demonstrar que seu instinto de sobrevivência supera as obsessões ideológicas”.
Não se espere que a troca de Salles vá além de uma reposição de peça por algo similar, partindo de quem parte e pelo que vimos em outros fronts. Salles é o homem na linha de frente de Bolsonaro em sua sanha antiambiental. Mas, para além de pragmatismos comerciais e diplomáticos, a saída de Salles é urgente para que se restaure minimamente um traço civilizatório.